Em 2 meses, setor acumula expansão de 17,9%, mas ainda insuficiente para eliminar queda acumulada de 26,6% nos meses de março e abril. Produção de veículos saltou 70% em junho.
A produção industrial brasileira avançou 8,9% em junho, na comparação com maio, segundo divulgou nesta terça-feira (4) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Essa foi a segunda alta seguida da indústria, mas ainda insuficiente para eliminar a perda de 26,6% acumulada pelo setor nos meses de março e abril, quando o setor atingiu o nível mais baixo já registrado no país.
O resultado mensal foi o mais elevado desde junho de 2018 (12,9%), quando o setor retomou a produção logo após a greve dos caminhoneiros, de acordo com o IBGE, reforçando a leitura de que o pior do impacto econômico da pandemia de coronavírus pode ter ficado para trás.
Já em relação a junho de 2019, houve recuo de 9%, no oitavo resultado negativo seguido nessa base de comparação.
“Embora tenha crescido numa magnitude importante, acumulando expansão de 17,9% nos meses de maio e junho, a produção industrial ainda está longe de eliminar a perda concentrada nos meses de março e de abril. O saldo negativo desses quatro meses é bastante relevante (-13,5%)”, destacou o gerente da pesquisa, André Macedo.
O resultado veio um pouco melhor do que o esperado. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de alta de 7,7% na variação mensal e de queda de 10,2% na base anual.
Mesmo com o desempenho positivo em junho, a indústria ainda está 27,7% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011 e acumula uma perda de 13,5% na pandemia.
O resultado de maio foi revisado pelo IBGE para uma alta de 8,2%, ante leitura inicial de crescimento de 7%. Já o tombo recorde de abril foi revisado para uma queda ainda mais profunda, de 19,2%.
Produção de veículos cresce 70% e puxa alta
Dos 26 ramos industriais pesquisados pelo IBGE, 24 registraram avanço em junho. O destaque foi a produção de veículos, que avançou 70% ante maio, puxado, principalmente, por carros e caminhões, impulsionada pelo retorno à produção de unidades paralisadas por causa da pandemia. Com o salto, a categoria acumulou alta de 495,2% em dois meses consecutivos de crescimento, mas ainda se encontra 53,7% abaixo do patamar de fevereiro último.
Também contribuíram para o resultado do mês os segmentos de bebidas (19,3%), de indústrias extrativas (5,5%), de produtos de borracha e de material plástico (17,3%), de outros equipamentos de transporte (141,9%), de produtos de minerais não-metálicos (16,6%), e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (24,4%).
Por outro lado, as indústrias de alimentos e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis recuaram ambos 1,8% em junho.
Maior queda trimestral da série histórica
Com o resultado de junho, o setor industrial tombou 19,4% no segundo trimestre e registrou a queda mais intensa desde o início da série histórica, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. No 1º trimestre, a queda tinha sido de 1,6%.
Na comparação com os 3 primeiros meses do ano, a indústria teve queda de 17,5% no 2º trimestre. No primeiro trimestre, o recuo havia sido de 2,7% sobre os três meses anteriores.
Já na média móvel trimestral, a indústria teve queda de 1,8% em junho frente ao nível de maio, mantendo a trajetória predominantemente descendente iniciada no final de 2019.
No acumulado do primeiro semestre, caiu 10,9%, e em 12 meses, recuou 5,6%, queda mais elevada desde dezembro de 2016 (-6,4%).
Resultado por grandes categorias
Entre as 4 grandes categorias econômicas, também houve crescimento pelo segundo mês seguido, com destaque para bens de consumo duráveis. Veja abaixo:
bens de consumo duráveis: 82,2%
bens de capital: 13,1%
bens de consumo semi e não-duráveis: 6,4%
bens intermediários: 4,9%
No acumulado do ano, frente a igual período do ano anterior, as quatro grandes categorias econômicas acumulam perdas.
Os resultados do primeiro semestre mostraram menor ritmo para bens de consumo duráveis (-36,8%) e bens de capital (-21,2%), pressionadas pela redução na fabricação de automóveis (-51,4%) e eletrodomésticos (-13,5%), na primeira; e de bens de capital para equipamentos de transporte (-36,2%) e para fins industriais (-16,3%), na segunda.
Já os setores produtores de bens de consumo semi e não-duráveis (-10,3%) e de bens intermediários (-6,6%) também assinalaram taxas negativas no acumulado no ano, mas ambos com quedas menos acentuadas do que a observada na média nacional (-10,9%).
Pandemia e perspectivas
Depois do forte tombo em março e abril, em meio às medidas de isolamento social, a economia tem mostrado sinais de recuperação, mas a incerteza permanece elevada diante do número ainda elevado de casos de coronavírus e elevado desemprego.
A pesquisa Focus mais recente do Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de retração de 5,66% para a economia brasileira este ano. Essa foi a quinta semana seguida de melhora do indicador. Já a projeção para o tombo da produção industrial em 2020 foi piorada para uma queda de 7,92%.
A confiança da indústria brasileira voltou a subir em julho, segundo o indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV), mas ainda segue longe do patamar pré-pandemia. A alta, de 12,2 pontos, foi a segunda maior variação positiva da série histórica do indicador, que atingiu 89,8 pontos - ainda abaixo do pico, de 101,4 pontos.
Fonte: G1