Acima do esperado pelo mercado, o IPCA do mês reflete os reajustes de mensalidade no início do ano letivo.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,25% em fevereiro, o menor resultado para o mês desde 2000, quando o índice foi de 0,13%, revelou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (11). Em janeiro, a alta havia sido de 0,21%.
O avanço nos preços, comum nesta época do ano, foi puxada pelo grupo Educação (3,70%) e reflete os reajustes de mensalidade no início do ano letivo, especialmente referentes aos cursos regulares (4,42%), em que aparecem ensino fundamental, médio, graduação e pós-graduação, cursos preparatórios e de idiomas, por exemplo.
“Os cursos regulares têm grande impacto no índice porque têm um peso maior dentro do orçamento das famílias”, explica o gerente de Índice de Preços do IBGE, Pedro Kislanov no material de divulgação do índice.
O resultado ficou um pouco acima do esperado pelo mercado, cujo consenso convergia para 0,15% segundo a Bloomberg. “A maior surpresa entre as altas de fevereiro foi a no grupo de cuidados pessoais, no qual os preços subiram 2,12%, ante -2,07% em janeiro”, destaca Alberto Ramos, diretor do Goldman Sachs para América Latina, em relatório. O economista nota também uma desaceleração mais suave do que o esperado da inflação nos alimentos consumidos em casa.
No ano, o IPCA acumula alta de 0,46% e, nos últimos 12 meses, de 4,01%, abaixo dos 4,19% observados nos 12 meses anteriores. Em fevereiro de 2019, a taxa havia sido de 0,43%.
A projeção dos especialistas de instituições financeiras ouvidos pelo último Boletim Focus é de que a inflação esteja em 3,20% no fim de 2020. A meta é de 4%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O grupo Alimentação e bebidas desacelerou para 0,11% em fevereiro, afetado novamente pela queda nos preços das carnes (-3,53%), que haviam recuado 4,03% em janeiro após ter um pico no fim do ano passado.
“Com essa queda, o item carnes está devolvendo a alta de 32,40% no acumulado de 2019, embora ainda não tenha devolvido completamente. É importante destacar que a distribuição entre as áreas é diferente. No Rio de Janeiro, por exemplo, os preços das carnes têm caído mais”, diz Kislanov.
A deflação das carnes contribuiu para a desaceleração da alimentação no domicílio (0,06%, frente a 0,20% em janeiro). No lado das altas, os destaques foram o tomate (18,86%) e cenoura (19,83%), segundo o IBGE.
Do lado das quedas, os recuos mais relevantes foram nos grupos Habitação (-0,39%) e Transportes (-0,23%). Esse primeiro havia registrado alta de 0,55% no mês anterior. A queda foi puxada principalmente pelo item energia elétrica (-1,71%), em função da mudança da bandeira tarifária de amarela para verde. Na bandeira amarela, é cobrado um acréscimo para cada 100 quilowatts-hora consumidos.
Transportes também havia subido em janeiro (0,32%). Gasolina e passagens aéreas foram os maiores impactos negativos no grupo, com deflação de -0,72% e -6,85%, respectivamente .
Apesar de vir acima do esperado, Ramos destaca que o IPCA de fevereiro está num nível confortável, já que a economia ainda conta com um grande hiato negativo do produto e com um cenário ainda ruim no mercado de trabalho. “As perspectivas reduzidas para o crescimento real de curto prazo do PIB devem contribuir para manter a inflação bem ancorada, em nossa visão”, diz.
O cenário abre caminho ainda, segundo o especialista, para que o Banco Central corte os juros. “O esperado impacto negativo significativo na economia do atual surto global de coronavírus, o grande declínio nos preços das commodities e a mudança para condições monetárias globais mais acomodatícias devem permitir ao Copom baixar moderadamente o Selic nos próximos meses”, diz.
Fonte: EXAME