O mercado precifica quase 100% de chances de o Banco Central cortar a Selic em 0,50 pp no Copom desta quarta-feira, para um novo piso histórico de 5,5% da taxa básica brasileira.
Inflação ancorada, economia fraca no Brasil e no exterior e avanço das reformas sustentam a expectativa de alívio monetário. Não se descarta, contudo, uma postura mais cautelosa no comunicado do BC.
A ideia de que a escalada do dólar poderia levar o BC a cortar menos os juros perdeu força nas últimas duas semanas. Dados endossaram a ideia de que a pressão cambial não está sendo repassada à inflação como já ocorreu no passado e o mercado consolidou a visão de que as intervenções do BC não revelam uma preocupação da autoridade com o nível da moeda.
As expectativas de inflação estão menores do que no Copom anterior e justificam mais dois cortes de 0,50 pp da Selic, disse Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.
A inflação baixa agiria como âncora, contratando inércia para a inflação futura, enquanto o hiato do produto – que é a diferença entre o crescimento potencial e o efetivo – ajudaria a conter pressões inflacionárias.
“Onde o BC poderia ser mais cauteloso é com o cenário externo incerto”, disse o economista em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo.
Em meio à divulgação de dados baixos de inflação, alguns bancos passaram a prever que a Selic poderá cair a até menos de 5%.
O Santander cortou sua projeção de taxa para o fim do ano de 5,25% para 4,5%. O Bradesco e o Bank of America preveem Selic a 4,75% no encerramento de 2019. Já entre os grandes fundos, o ciclo de queda divide as apostas.
O consenso de que a alta do dólar não impede o BC de manter o mesmo ritmo de corte da Selic, porém, se limita apenas a este Copom. Para os próximos, o mercado está dividido.
Para alguns economistas, o quadro de inflação baixa, com a atividade fraca restringindo o “pass-through”, permite ao BC reduzir o juro a até 5% ou menos até o fim do ano.
Outros analistas, porém, alertam que o repasse do câmbio para os preços, embora limitado, não é zero, e se o dólar mantiver o nível atual acima de R$ 4,00, terá algum impacto inflacionário.
O comunicado do Copom deve reconhecer que o balanço de riscos permanece confortável, mas a sinalização do BC pode mudar para uma postura mais neutra e dependente de dados, diz Alberto Ramos, economista para América Latina do Goldman Sachs.
Para ele, o BC pode mudar ou mesmo retirar a expressão anterior, segundo a qual a consolidação do cenário benigno para a inflação deveria permitir ajustes adicionais no grau do estímulo.
A parcimônia monetária teria não só objetivo de evitar que o câmbio afete a inflação como também impedir que juros excessivamente baixos alimentem a tendência de alta da moeda americana, devido à redução do diferencial entre taxas internas e externas.
Quando este diferencial cai, diminui o incentivo para o investidor estrangeiro carregar posições na divisa brasileira, o chamado “carry trade”.
Mesmo alguns economistas mais tranquilos com o cenário favorável a juros menores avaliam que o BC poderá não se comprometer com as próximas decisões, mantendo liberdade de ação para seguir com o corte de 0,50 pp, reduzir o ritmo, ou mesmo encerrar precocemente o ritmo de corte nos próximos encontros.
O BC tem espaço para cortar, mas deve ter cuidado com a comunicação, diz Italo Lombardi, estrategista do Crédit Agricole. Para ele, o BC deve salientar que existem incertezas no cenário externo que podem gerar volatilidade no câmbio.
Para Solange Srour, da ARX Investimentos, eventual mudança no comunicado do Copom deve ser pequena. “Deve deixar como está, sinalizando, não tão explicitamente, um corte adicional. Não deve mudar muito”, disse a economista. Segundo ela, não há “constrangimento doméstico” para Selic cair até mesmo abaixo de 5%.
Pesquisa Bloomberg com 30 economistas mostra unanimidade nas estimativas de corte da Selic em 0,5 pp no Copom desta quarta-feira. Para o encontro de outubro, o mercado de juros precifica maior chance de uma redução do ritmo de corte para 0,25 pp.
Última pesquisa Focus mostrou que o mercado projeta IPCA de 3,45% em 2019 e 3,80% em 2020. Ambas as estimativas estão abaixo do centro da meta, que é de 4,25% este ano e 4% no próximo. Antes do Copom anterior, projeções eram de 3,80% e 3,90%, respectivamente.
Fonte: EXAME